A Nova Era do Mercado da Arte

 

Revisão de 2020 e NFTs

por Alexandre Coxo, 05 de Abril de 2021

O ano de 2020 foi marcadamente diferente do espectável, contudo o mercado da arte resistiu com os colecionadores a mostrarem interesse por adquirir mais no pós-confinamento.

Neste artigo é apresentado um apanhado dos números de 2020 e as principais tendências do mercado da arte.

Apesar do pessimismo inicial e da queda total de 22% face ao ano anterior, o ano fechou com as vendas a níveis significativamente superiores aos de 2009.

Os dados apresentados são provenientes das grandes plataformas que analisam o mercado da arte: Arts Economics, Artprice, Art Basel, UBS Investor Watch Survey, e Artfacts; e incluem valores de retalhistas, leiloeiras, feiras de arte, peritos e colecionadores.

Contudo e de forma geral, estas plataformas continuam sem incluir dados sobre o mercado de arte digital, que este ano se fez mais visível com o fenómeno de vendas dos Token Não Fungíveis (NFT).

No final deste artigo, a título de curiosidade, é apresentada a “Ferramenta de Decisão” disponibilizada pela Artprice, com o exemplo sobre Wassily Kandinsky.

Participação dos países no mercado global de arte por valor em 2020
© Arts Economics (2021)

Durante o ano de 2020, as vendas globais de arte e antiguidades foram 50,1 bilhões de dólares, o que representa uma queda de 22% face a 2019 e de 27% comparando com 2018.

Contudo, as vendas online alcançaram um recorde 12,4 bilhões de dólares, duplicando em relação ao ano anterior, perfazendo 25% do mercado.

Embora os três principais centros de arte, EUA, Reino Unido e China, tenham sofrido uma redução das vendas, eles continuam a representar a maioria das vendas globais em valor, com 82% do mercado. Os EUA mantiveram a sua posição de liderança com uma quota de 42%, a China e o Reino Unido com 20% cada.

As vendas no mercado de arte dos EUA caíram 24% em 2020 para 21,3 bilhões de dólares, mas permaneceram 76% acima da recessão de 2009.

As vendas na China diminuíram 12%, para 10,0 bilhões $, sendo um declínio menos severo do que dos outros grandes.

As vendas no Reino Unido caíram 22%, para 9,9 bilhões $, o nível mais baixo em dez anos, mas 10% acima da recessão de 2009.

Retalho

Para os retalhistas (galeristas, curadores e “marchand”) as consequências da pandemia foram muito significativas, com uma diminuição de 20%, apos o aumento de 2% de 2019.

A redução de custos operacionais com pessoal e montagem de exposições, permitiu que alguns mantivessem o lucro. Cerca de 28% tiveram mais rendimento e 18% mantiveram o lucro líquido no mesmo nível.

Os hábitos e as prioridades mudaram significativamente, tendo ocorrido um foco maior nos clientes antigos, vendas online e redução de custos. Comparativamente com a rotineira montagem e desmontagem de feiras de arte.

Apesar do novo foco, que consciencializou para a importância do trabalho de comunicação, a base de clientes média por revendedor diminuiu cerca de 15%.

Leilões

As vendas em leilão público de arte fina, decorativa ou antiguidades foram de 17,6 bilhões $, uma diminuição de 30% em relação ao ano anterior.

As vendas privadas foram estimadas por baixo em 3,2 bilhões $, ainda assim, mais de 36% face a 2019.

Os três grandes mercados de leilões mantiveram a participação combinada de 81% das vendas por valor. Tendo a China ultrapassado os EUA, sendo agora o maior mercado, com 36%, os EUA ficaram com 29% e o Reino Unido 16%.

O maior setor no mercado de leilões públicos foi a Arte Contemporânea (55%).

Já as vendas no setor impressionista e pós-impressionista, a categoria dominante há 30 anos, sofreram a maior queda, com vendas abaixo de 50%.

Feiras de Arte

Os sucessivos confinamentos forçaram o cancelamento de 61% das feiras planeadas. Das restantes, 37% realizaram-se normalmente e os 2% restantes aconteceram em eventos híbrido ou alternativos.

Das feiras realizadas, mais de metade ofereceram uma versão digital/online das suas salas.

As vendas caíram drasticamente, representado apenas 13% das vendas dos retalhistas.

Apesar de tudo, 80% dos colecionadores de alto patrimônio líquido (HNW) diz que ficaria feliz em participar em qualquer feira até ao fim e de 2021.

“66% dos entrevistados relataram que a pandemia aumentou seu interesse em colecionar.”

Divisão por tema das obras vendidas em leilão
Art Market 2021 (ArtBasel/UBS)

Mercado Online

Embora as vendas no geral tenham sofrido uma queda acentuada, as vendas online atingiram 12,4 bilhões $, duplicando o valor de 2019.

Assim o mercado online representou 25% das vendas em 2020, sendo a primeira vez que a participação do e-commerce no mercado de arte superou a do retalho em geral.

As vendas online no setor de concessionários, incluindo as feiras de arte online, triplicou para 39%.

Os retalhistas verificaram que a maioria das compras feitas foram por clientes antigos, o que indicia que o publico existente se adaptou facilmente às plataformas online.

90% dos colecionadores de HNW visitaram uma feira de arte ou galeria OVR em 2020.

72% acharam que é importante ou essencial ter um preço publicado ao lado das obras de arte à venda online.

Contudo, os canais online não foram a primeira preferência para ver arte para comprar: 66% dos HNW preferiram assistir a uma exposição física, contra os 22% que preferiram o online.

Uma das vantagens dos canais digitais é o maior grau de transparência no que toca a valores apresentados e valores de venda. Os métodos de pagamento digitais oferecem um registo confiável para todos os envolvidos. Mesmo para valores superiores a 10000 $, a transparência do processo parece favorecer o aumento de vendas.

Apesar disso, técnicas de venda não verificáveis, como apresentação de listas em PDFs ou salas digitais de exposição privadas, provavelmente continuarão a ser usadas como meio de apresentação e finalização da venda.

O mercado de arte teve o mais desenvolvimento e envolvimento na versão digital de sempre. A capacidade de comunicar e negociar online durante a pandemia foi fundamental para a sobrevivência dos negócios e a maioria concorda que muitas das mudanças digitais serão para manter.

No entanto, poucas são as empresas aptas ou dispostas a mudar, brevemente, para um formato online. Muitos colecionadores transacionaram para o online, por ausência de opções, mas, para a maioria não é o método preferido de envolvimento.

A transparência de preços tem sido o aspeto mais importante e debatido no desenvolvimento de plataformas online e bem-vindo por colecionadores.

Provavelmente o desafio será: como garantir que o aumento nas vendas e comunicações digitais coexistam com o entusiasmo e o contato social das visitas a exposições e eventos ao vivo?

Colecionadores

Em 2009, na consequência da crise financeira global, o número de bilionários em todo o mundo diminuiu 30% e sua riqueza caiu 45%. Em 2020 não foi assim, o número de bilionários cresceu 7% e sua riqueza cresceu 32%.

As pesquisas, com base em 2569 colecionadores de HNW, conduzidas pela Arts Economics e UBS Investor Watch, indicaram um envolvimento ativo no mercado de arte, apesar da pandemia. 66% dos entrevistados relataram que a pandemia aumentou seu interesse em colecionar.

Os colecionadores Millennial foram os que mais gastaram, com 30% gastando mais de 1 milhão $, contra 17% dos Boomers.

Apesar das restrições em vigor, os HNW compram por meio de diversos canais, com 81% tendo comprado arte em galeria e 54% em leilão.

Os revendedores foram o canal preferido, com a maioria dos HNW a preferir comprar em instalações físicas, enquanto 29% gostaram de comprar online e 14% optaram pelo telefone ou e-mail.

Um terço dos HNW experimentaram comprar em novas galerias e 41% adquiriram apenas obras de artistas cujos trabalhas já colecionavam.

Os colecionadores afirmam querer estar ativos no mercado em 2021, com a maioria a planear adquirir e 35% a pensar vender obras.

No entanto, as motivações para revender variam e podem estar relacionadas mudanças das circunstâncias pessoais, bem como a motivos financeiros oportunistas ou especulativos.

Metade dos colecionadores que realizam revendas foram motivados por motivos financeiros: 33% foram motivados a vender para realizar algum tipo de investimento ou retorno financeiro, enquanto 17% tinha outros motivos financeiros (como necessidade de dinheiro ou crédito). Para os restantes colecionadores, os motivos estavam relacionados com o conteúdo das suas coleções ou por falta de espaço expositivo.

Impacto econômico da Pandemia

Estima-se que existiam aproximadamente 305250 empresas no mercado da arte e antiguidades, empregando diretamente cerca de 2,9 milhões de pessoas.

Mais de 2,6 milhões dos trabalhadores ocupa o setor de galerias e revendedores, tendo ocorrido uma diminuição de 5% no número de empresas em atividade.

Os gastos com feiras de arte deixaram de ser a maior área de gastos acessórios. A criação de plataformas digitais representou o maior desviou dos recursos.

A Nova Era do Mercado da Arte

Apesar da extensão do estudo da Art Basel/UBS Investor Watch Survey, as novas plataformas de venda e produção de arte não foram consideras. Desde 2012 que os Tokens não fungíveis (NFTs) são usados como meio de venda de obras de arte, quer digitais quer não digitais. O volume de vendas tem aumentado nos últimos anos, tendo-se, em 2020, verificado um crescimento muito significativo.

Com o aumento do uso de meios digitais provocado pela pandemia, o mercado de NFTs sofreu um grande aumento quer no número de vendas quer no valor. Recentemente, uma peça de arte digital foi vendida por 69 milhões de $.

Estes dados não foram abrangidos pelas plataformas clássicas de comercialização de obras de arte. Contudo, há já várias galerias e curadores a promoverem e revenderem obras neste formato ou com recurso à tecnologia.

As plataformas de venda apresentam tantos as obras que disponibilizam como dos dados a elas associados – preço, histórico de vendas, proprietários, etc. O aumento da transparência, assim como a facilidade de rastrear o percurso de uma obra, tem atraído artistas e colecionadores.

Há vários modelos de negócios disponíveis, entre mercados livres e mercados exclusivos para membros, com compra direta ao artista ou mediada por curadores, a oferta é grande e semelhante às estruturas pré-existentes. Alguns dos mercados mais frequentados para aquisição de NFTs em 2020 foram:

 

Mas, o que é um NFT?

Um token não fungível (NFT) é um tipo de token criptográfico que representa algo único. Ao contrário das criptomoedas como o Bitcoin e outros tokens utilitários, os NFTs não são mutuamente permutáveis.

Um item fungível, como o dinheiro, pode ser trocado por outro. O Dolar pode ser substituído pelo Euro, desde que se considere que o valor é equivalente, para cumprir exatamente a mesma função. Já um item não fungível é único, como um objeto de arte.

Ou seja, um NFT define o proprietário de determinado conjunto de dados, esses dados podem corresponder a um ficheiro JPGE, um video, uma música, um videojogo, um documento de texto, etc.

Desta forma, um NFT contem algo específico e individual, bem como o registo da troca de propriedade do próprio token. Ou seja, ao contrário de um bem físico e da maior parte dos produtos digitais, um NFT inclui o registo de todas as compras e vendas a que foi sujeito desde a sua criação.

Os NFTs usados para a venda de obras de arte são associados à blockchain Ethereum. Pelas suas características, permite definir o proprietário do conjunto de dados que o próprio Token comporta ou os objetos reais ou digitais a que a informação contida nos dados se refere. Por exemplo, se um NFT contém uma imagem no formato JPEG, quem tiver esse NFT é proprietário da imagem. Se um NFT tiver um documento de texto relativo ao certificado de autenticidade ou propriedade de uma pintura a óleo, quem tiver esse NFT será dono do documento e por consequência da pintura.

A grande vantagem dos NFTs é a segurança de registo oferecida pela tecnologia blockchain. Assim, a escassez digital de determinado ficheiro é verificável, bem como os seus proprietários. Uma outra vantagem, comum aos formatos digitais em geral, é a possibilidade de um mesmo ficheiro poder ser ligo em várias plataformas e ecrãs.

A redução de atividade cultural provocada pela pandemia aumentou o consumo de produtos digitais, envolvendo os canais culturais de uma outra maneira. Talvez seja cedo para saber se os NFTs representaram uma fatia significativa do mercado da arte.

Todos os artistas parecem interessados por esta tecnologia, desde David Hockney a Alexandre Farto (AKA Vhils), e várias galerias e curadores já promovem obras de arte com base em NFTs, quer obras novas quer de obras anteriores que foram digitalizadas.

Os pontos fracos apontados a esta tecnologia prendem-se com a sua produção, que permite o uso de material de origem não certificada, e a emissão de gases de efeito de estufa, uma vez que o processamento de blockchain envolve um grande consumo energético.

Contudo, a grande vantagem é capacitar o artista em termos de propriedade, seguida da facilidade de verificação (ou contrário de uma pintura que tenha sido falsificada por um artesão competente ou de uma pintura digital não registada). Desta forma o artista pode saber quando, onde e por que valor uma obra foi vendida, mesmo no mercado secundário, e definir, à priori, qual a taxa que quer reclamar pelas transações.

Ferramenta de Decisão – Artprice

A Artprice é uma das plataformas que divulga dados sobre o mercado da arte e tem disponibilizado as analises sobre o mercado das obras de Wassily Kandinsky.

Em 2020, Kandinsky obteve a posição 125, 22 lugares abaixo do ano anterior no ranking geral, mas com um ganho de 2% na evolução do preço, apesar do volume de negócios total ter sido aproximadamente metade do ano anterior: 8,439,384 €. A localização principal das vendas mantem-se nos EUA.

As peças mais vendidas são as reproduções, ocupando 76% das vendas, seguidas pelos desenhos/aguarelas com 16% e as restantes peças com 8%. Verificando-se assim, uma aumento de vendas de reproduções e uma diminuição de obras originais.

Aceda ao artigo da Artprice clicando no botão

Número de lotes vendidos
© Artprice.com

Ao contrário do inicialmente previsto, a pandemia não foi a principal causa de perdas de volume e valor do mercado da arte. O bloquei do setor das feiras de arte mostrou claramente que o setor estava preso a rotas de mercado dispensáveis.

Apesar de 61% das feiras não terem acontecido, os colecionadores compraram mais, mesmo sem considerar o novo mercado das NFTs.

Art Market 2021

 
Relatório da Art Basel e UBS

 

Veja os dados do mercado global de arte e antiguidades em 2020.

O relatório descreve as principais tendências, analisando o desempenho de diferentes regiões, sectores e segmentos de valor.

O aumento das vendas privadas no setor dos leilões, à semelhança do ano anterior, reflete a incerteza das principais ecomimias, que veem a China a tomar a liderança do mercado.

As plataformas e meios digitais afirmam-se cada vez mais como os mais apetecíveis para artistas e colecionadores. A transparência, os baixos custos, a rastreabilidade e a tecnologia NFT são as principais características dos meios digitais.

Os colecionadores HNW mantem-se fiéis à qualidade das peças, que deve ser museológica, mas ocorreu um aumento da procurar por arte contemporânea.

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